A educação para Kant
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Objetivo
neste texto apresentar, muito brevemente, Immanuel Kant, bem como expor as
concepções de educação e os princípios práticos para a primeira educação das
crianças que este autor apresenta em sua obra “Sobre a Pedagogia”.
Immanuel
Kant nasceu em Königsberg na Alemanha em1724. Era filho de pequenos artesões e
passou toda sua vida nessa cidade. Iniciou seus trabalhos como preceptor de
crianças de famílias ricas. Doutorou-se em filosofia e tornou-se professor
universitário. Até hoje Kant é considerado influente para o pensamento
pedagógico. Immanuel Kant faleceu em 1804, também em Königsberg na Alemanha, devido a uma doença
degenerativa.
Em
sua obra “Sobre a Pedagogia” do original “Ueber Paedagogie” Kant, inspirado em
Jean Jacques Rousseau, discorre sobre seu entendimento de educação, os
estágios e divisões da educação, sua compreensão de infância, sobre a questão
da formação do caráter e, como Rousseau, assinala alguns conselhos práticos
para a primeira educação das crianças.
Kant
entende que a educação é o cuidado da “infância (a conservação, o
trato), a disciplina e a instrução como formação.” (KANT, 1996, p. 11). O
autor entende como cuidado “as precauções que os pais tomam para impedir que
as crianças façam uso nocivo de suas forças.” (KANT, 1996, p. 11). Sobre a
educação ele escreve ainda que “a espécie humana é obrigada a extrair de si
mesma pouco a pouco, com suas próprias forças, todas as qualidades naturais,
que pertencem à humanidade” (KANT, 1996, p. 12) e que “por um lado, a
educação ensina alguma coisa aos homens e, por outro lado, não faz mais que
desenvolver nele certas qualidades” (KANT, 1996, p. 15). Portanto, para Kant
a educação é um processo pelo qual se desenvolvem as potencialidades inatas
do ser humano.
O
autor inicia a obra afirmando que “o homem é a única criatura que precisa ser
educada" (KANT, 1996, p. 11), ou seja, o homem não é igual as outras
espécies animais. Nas palavras de Kant os animais “não precisam ser cuidados,
no máximo precisam ser alimentados, aquecidos, guiados e protegidos de algum
modo. A maior parte dos animais requer nutrição, mas não requer cuidados”
(KANT, 1996, p. 11). Portanto o homem necessita ser educado pois a educação é
o processo pelo qual o homem passa para tornar-se homem, para desenvolver
todas suas capacidades naturais: Nas palavras do autor “o homem não pode
tornar-se um verdadeiro homem se não pela educação. Ele é aquilo que a
educação dele faz.” (KANT, 1996, p. 15)
Essa
educação, segundo Kant, é recebida pelo homem por meio de “outros homens, os
quais receberam igualmente de outros” (KANT, 1996, p. 15). Como o ser humano
está sempre em busca da perfeição, Kant (1996) acredita que cada geração
torna cada vez melhor a educação, cada geração dá um passo à frente para o
aperfeiçoamento do homem. Nesse sentido Kant escreve que
a educação é uma arte, cuja prática
necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos
conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para
exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa
proporção e de conformidade com a finalidade daquelas, e, assim, guie toda a
humana espécie a seu destino. (1996, p. 19)
Além de entender que a educação é
constantemente aperfeiçoada pelas gerações, Kant argumenta que esta deve
estar sempre voltada ou preparando a criança para o futuro e não para o
presente, ou seja, para um estado melhor. Assim sendo o autor escreve que
deveriam dar as crianças “uma educação melhor, para que, possa acontecer um
estado melhor no futuro” (KANT, 1996, p. 22-23).
Por
várias vezes o autor conceitua que a educação como uma arte: por ser
constantemente aperfeiçoada, porque as qualidades naturais do homem não se
desenvolvem sozinhas, dentre outras justificativas.
Sobre os estágios ou divisões da
educação Kant divide-a em educação física e educação prática. Para o autor
a educação física é aquela que
o homem tem em comum com os animais, ou seja, os cuidados com a vida
corporal. A educação prática ou moral [...] é aquela que diz
respeito à construção (cultura) do homem, para que possa viver como um ser
livre, o qual pode bastar-se a si mesmo, constituir-se membro da sociedade e
ter por si mesmo um valor intrínseco. (KANT, 1996, p. 36)
Além de estabelecer essa divisão para
a educação, Kant (1996) expõe vários princípios ou conselhos práticos para a
primeira educação das crianças, dentre os quais: os bebês devem ser
alimentados com leite materno; o uso de faixas são prejudiciais ao
desenvolvimento dos infantes; os bebês não devem ser alimentados com bebidas
e alimentos muito quentes, a cama do infante deve ser fresca e dura pois isso
fortifica o corpo; banhos frios também são bons para fortificar o corpo; não
se deve usar nada para despertar o apetite das crianças; não balançar as
crianças para que estas durmam; não se preocupar muito com o choro das
crianças para que estas não fiquem mimadas; deixar a criança engatinhar até
que comece por conta própria querer caminhar; determinar hora certa para dormir
para não perturbar as funções corporais; alimentar a criança em horas
marcadas; correr, pular, carregar pesos, atirar, lutar... são exercícios que
fazem bem ao desenvolvimento das crianças; sugere-se que a criança brinque de
cabra-cega, pião, balaço e papagaio; a criança deve aprender a trabalhar.
Frente a isso Kant afirma que “quanto
mais costumes tem um homem, tanto menos é livre e independente” (KANT, 1996,
p. 51) portanto deve-se tomar o cuidado para não mimar as crianças para que
essas aprendam a fazer o que desejam sozinhas.
Perante todas essas considerações
sobre a educação torna-se fácil entender porque Kant diz que a educação é uma
arte. Além de ser uma arte, Kant assegura que a educação “é o maior e o mais
árduo problema que pode ser proposto aos homens.” (KANT, 1996, p. 20) e que
“entre as descobertas humanas há duas dificílimas, e são: a arte de governar
os homens e a arte de educá-los” (KANT, 1996, p. 21). Portanto, educar não é
tarefa fácil. A educação exige compromisso, responsabilidade, requer que o
educando se implique verdadeiramente no desenvolvimento pleno através dos
estímulos, conselhos de seu educador.
Concluindo o livro, o autor lembra
que, por fim, é preciso orientar as crianças para a “necessidade de, todo
dia, examinar a sua conduta, para que possam fazer uma apreciação do valor da
vida, ao seu término” (KANT, 1996, p. 107), ou seja, a criança deve ser
estimulada a realizar a auto-avaliação, a desenvolver a consciência sobre
seus atos.
O
livro “Sobre a pedagogia” de Kant é extremamente conveniente para aquelas
pessoas interessadas na arte de educar. A leitura desta obra é prazerosa e
sua mensagem me parece atual e relevante.
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