quinta-feira, 10 de abril de 2014

A Educação para Kant


A educação para Kant
 
 

 

  
Objetivo neste texto apresentar, muito brevemente, Immanuel Kant, bem como expor as concepções de educação e os princípios práticos para a primeira educação das crianças que este autor apresenta em sua obra “Sobre a Pedagogia”.
Immanuel Kant nasceu em Königsberg na Alemanha em1724. Era filho de pequenos artesões e passou toda sua vida nessa cidade. Iniciou seus trabalhos como preceptor de crianças de famílias ricas. Doutorou-se em filosofia e tornou-se professor universitário. Até hoje Kant é considerado influente para o pensamento pedagógico. Immanuel Kant faleceu em 1804, também em Königsberg na Alemanha, devido a uma doença degenerativa.
Em sua obra “Sobre a Pedagogia” do original “Ueber Paedagogie” Kant, inspirado em Jean Jacques Rousseau, discorre sobre seu entendimento de educação, os estágios e divisões da educação, sua compreensão de infância, sobre a questão da formação do caráter e, como Rousseau, assinala alguns conselhos práticos para a primeira educação das crianças.
Kant entende que a educação é o cuidado da “infância (a conservação, o trato), a disciplina e a instrução como formação.” (KANT, 1996, p. 11). O autor entende como cuidado “as precauções que os pais tomam para impedir que as crianças façam uso nocivo de suas forças.” (KANT, 1996, p. 11). Sobre a educação ele escreve ainda que “a espécie humana é obrigada a extrair de si mesma pouco a pouco, com suas próprias forças, todas as qualidades naturais, que pertencem à humanidade” (KANT, 1996, p. 12) e que “por um lado, a educação ensina alguma coisa aos homens e, por outro lado, não faz mais que desenvolver nele certas qualidades” (KANT, 1996, p. 15). Portanto, para Kant a educação é um processo pelo qual se desenvolvem as potencialidades inatas do ser humano.
O autor inicia a obra afirmando que “o homem é a única criatura que precisa ser educada" (KANT, 1996, p. 11), ou seja, o homem não é igual as outras espécies animais. Nas palavras de Kant os animais “não precisam ser cuidados, no máximo precisam ser alimentados, aquecidos, guiados e protegidos de algum modo. A maior parte dos animais requer nutrição, mas não requer cuidados” (KANT, 1996, p. 11). Portanto o homem necessita ser educado pois a educação é o processo pelo qual o homem passa para tornar-se homem, para desenvolver todas suas capacidades naturais: Nas palavras do autor “o homem não pode tornar-se um verdadeiro homem se não pela educação. Ele é aquilo que a educação dele faz.” (KANT, 1996, p. 15)
Essa educação, segundo Kant, é recebida pelo homem por meio de “outros homens, os quais receberam igualmente de outros” (KANT, 1996, p. 15). Como o ser humano está sempre em busca da perfeição, Kant (1996) acredita que cada geração torna cada vez melhor a educação, cada geração dá um passo à frente para o aperfeiçoamento do homem. Nesse sentido Kant escreve que

 
a educação é uma arte, cuja prática necessita ser aperfeiçoada por várias gerações. Cada geração, de posse dos conhecimentos das gerações precedentes, está sempre melhor aparelhada para exercer uma educação que desenvolva todas as disposições naturais na justa proporção e de conformidade com a finalidade daquelas, e, assim, guie toda a humana espécie a seu destino. (1996, p. 19)

 
Além de entender que a educação é constantemente aperfeiçoada pelas gerações, Kant argumenta que esta deve estar sempre voltada ou preparando a criança para o futuro e não para o presente, ou seja, para um estado melhor. Assim sendo o autor escreve que deveriam dar as crianças “uma educação melhor, para que, possa acontecer um estado melhor no futuro” (KANT, 1996, p. 22-23).
Por várias vezes o autor conceitua que a educação como uma arte: por ser constantemente aperfeiçoada, porque as qualidades naturais do homem não se desenvolvem sozinhas, dentre outras justificativas.
Sobre os estágios ou divisões da educação Kant divide-a em educação física e educação prática. Para o autor

 
a educação física é aquela que o homem tem em comum com os animais, ou seja, os cuidados com a vida corporal. A educação prática ou moral [...] é aquela que diz respeito à construção (cultura) do homem, para que possa viver como um ser livre, o qual pode bastar-se a si mesmo, constituir-se membro da sociedade e ter por si mesmo um valor intrínseco. (KANT, 1996, p. 36)

 
Além de estabelecer essa divisão para a educação, Kant (1996) expõe vários princípios ou conselhos práticos para a primeira educação das crianças, dentre os quais: os bebês devem ser alimentados com leite materno; o uso de faixas são prejudiciais ao desenvolvimento dos infantes; os bebês não devem ser alimentados com bebidas e alimentos muito quentes, a cama do infante deve ser fresca e dura pois isso fortifica o corpo; banhos frios também são bons para fortificar o corpo; não se deve usar nada para despertar o apetite das crianças; não balançar as crianças para que estas durmam; não se preocupar muito com o choro das crianças para que estas não fiquem mimadas; deixar a criança engatinhar até que comece por conta própria querer caminhar; determinar hora certa para dormir para não perturbar as funções corporais; alimentar a criança em horas marcadas; correr, pular, carregar pesos, atirar, lutar... são exercícios que fazem bem ao desenvolvimento das crianças; sugere-se que a criança brinque de cabra-cega, pião, balaço e papagaio; a criança deve aprender a trabalhar.
Frente a isso Kant afirma que “quanto mais costumes tem um homem, tanto menos é livre e independente” (KANT, 1996, p. 51) portanto deve-se tomar o cuidado para não mimar as crianças para que essas aprendam a fazer o que desejam sozinhas.
Perante todas essas considerações sobre a educação torna-se fácil entender porque Kant diz que a educação é uma arte. Além de ser uma arte, Kant assegura que a educação “é o maior e o mais árduo problema que pode ser proposto aos homens.” (KANT, 1996, p. 20) e que “entre as descobertas humanas há duas dificílimas, e são: a arte de governar os homens e a arte de educá-los” (KANT, 1996, p. 21). Portanto, educar não é tarefa fácil. A educação exige compromisso, responsabilidade, requer que o educando se implique verdadeiramente no desenvolvimento pleno através dos estímulos, conselhos de seu educador.
Concluindo o livro, o autor lembra que, por fim, é preciso orientar as crianças para a “necessidade de, todo dia, examinar a sua conduta, para que possam fazer uma apreciação do valor da vida, ao seu término” (KANT, 1996, p. 107), ou seja, a criança deve ser estimulada a realizar a auto-avaliação, a desenvolver a consciência sobre seus atos.
O livro “Sobre a pedagogia” de Kant é extremamente conveniente para aquelas pessoas interessadas na arte de educar. A leitura desta obra é prazerosa e sua mensagem me parece atual e relevante.

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